terça-feira, 30 de março de 2010

Acho que tenho tempo sobrando...

Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito.
Clarice Lispector
PARTE 1
Dizem por aí que o tempo não pára (o Cazuza, então, não parava de dizer). Eu fico a matutar se é ele que passa ou nós que passamos por ele. Quando eu era menina, o tempo dava e sobrava. Ou quase, porque sempre se queria mais cinco minutos pra brincar lá fora. Mas tempo havia pra tudo que se podia. Ler, pular corda, brincar de pega-pega, assistir sessão aventura, dormir, comer, rir, deitar a cabeça no colo da mãe. Não me lembro do tempo da infância, mas está tudo lá, no tempo feito imagem que são as fotografias. Ah, eu estou sorrindo nas fotos. Com certeza, eram tempos de bonança.
Devo ter sido adolescente, logo depois. Outro tempo do qual não dou conta. Sempre me vejo já velha, espírito antigo. Mas sei que me alvorocei pelos rapazes e havia o tempo do cochichar com as amigas, o tempo do cinema como lugar dos namoricos, o tempo de esperar o telefonema (nunca fui boa no uso desse tempo, agoniada ligava logo e acabava com o tempo da ansiedade). Era o tempo de tudo em cima, onde a lei da gravidade não era conhecida. Tempo de ler e ler e ler. Nesse tempo descobri muito de mim no que eu via, ouvia, lia. Tempo do Corujão e da Sessão de Gala. Tempo de festas de 15 anos em longos cor de rosa que eu detestava. Tempo dos primeiros amores, tempo de ser amada de todos os jeitos e aprender a amar de jeitos vários. Tempo de carteiras: de estudante, de identidade, de trabalho. Tempo de preparação. Também deste tempo tenho sorridentes registros. Com certeza eram tempos de alegria.
E aí veio o tempo da decisão. Faculdade, filho, trabalho. Tempo de cada coisa em seu lugar e esse lugar era eu. Primeiro, o tempo de poder decidir. Quero sim, obrigado. Não, não, isso me enfastia, passo. Depois o tempo de reconhecer: não gosto mas tenho que. E, mais adiante, o tempo de gostar do que se tem pra gostar sem deixar de ai, outros mais. Tempo de ajustar, não sei se eu ao tempo ou o tempo a mim. Sei que o tempo passava em barriga que crescia e nem se notava a a não ser a felicidade. Tempo de planejar e não cumprir. Ou cumprir. Tempo de rir com amigos que já se tem de tanto tempo que advinham a piada antes de dita. Tempo de poder gastar o tempo conforme o seu nariz. Tempo de pagar pra ver. Tempo de pagar, pronto. Desse tempo já lembro das gargalhadas. Tempo bom, tempo rei.
Tem ainda o tempo de sofrer, de viajar, de namorar, de se esbaldar. Tempo de sonhar com um tempo em que há casa. Tempo de fazer um trabalho cujo tempo é seguro. Tempo de fazer novos amigos e se surpreender como ainda se tem tanto amor pra amar. Tempo de não ter medo do ridículo. Tempo de dançar na rua sem música. Tempo de correr dentro do tempo pra não se perder o tempo de fazer tudo isso. Tempo de parar e vagabundar. E no dia seguinte tempo de se arrepender e correr de novo e mais. Tempo da delicadeza. E da beleza. Tempo das primeiras rugas e dos cabelos brancos ainda discretos. Tempo da lei da gravidade, da lei seca, da lei do menor esforço. Dá pra escutar? sou eu rindo desse e nesse tempo.
E vem aí e ainda tempos outros. Desse tempo só sei que chega e que eu o espero. Com um sorriso nos lábios. E sem relógio.

PARTE 2 - muito mais sobre o tempo, encontra-se aqui(borboletas) ou aqui (olhas da dita cuja)

PARTE 3 - Resposta ao Tempo


Essa música me toca de forma tal que. Assim mesmo, as palavras somem e só dá vontade de rir. Ou chorar. Ou as duas coisas, que juízo nunca foi o meu forte. Amores terminam no escuro, sozinhos. Isso é bonito demais. Como uma verdade que é insuportavelmente premente e que se está a um passo de conhecer, mas o tempo escapole e só se fica com a impressão de quase (no pau, diria o locutor esportivo). E o que mais gosto é isso mesmo: eu morro de amor pra tentar reviver. Assim, sigo no meu tempo, despertando as paixões - principalmente as minhas que cada qual cuide de amar que amar é viver..mas isso já e outra canção.

PARTE 4 - Eu ia fazer meu post comentando frases legais sobre o tempo, mas aí outra idéia (essa lá de cima) veio vindo, veio vindo e não pude evitar. De qualquer forma, eis as frases que buliram com meu coraçãozinho:

O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família. (Mário Quintana)

O tempo é muito lento para os que esperam
Muito rápido para os que tem medo
Muito longo para os que lamentam
Muito curto para os que festejam
Mas, para os que amam, o tempo é eterno.(Shakespeare)

E a preferida, campeã, mais legal, inesquecível e brilhante: Se você não se atrasar demais, posso te esperar por toda a minha vida. (Oscar Wilde)


PARTE 5 - Sobre nós e o tempo:




PARTE 6 - Só quero gastar mais um pouquinho do tempo rasgando seda: tem coisa mais genial que os títulos dos posts da Pipoca? Proponho uma enquete: qual o melhor título de post até agora? Meu voto: Vou querer o básico (embora sob a fumaça dos sutiãs fique por uma cabeça e o surpreendente auto retalho da nanica também fosse fortíssimo candidato). Vamos gastar nosso tempo votando(rsrsrs)?

7 comentários:

Lica disse...

Teus dedinhos não se cansam de percorrer o teclado não, guria? Afe, que mulher pra gostar de escrever... E o pior, gastou tempo nenhum pra fazer esse post quilométrico (mas muito apreciável)...

Em tempo: meu voto fica para o sob a fumaça dos sutiãs!

Danielle Martins disse...

Só você pra conseguir 6 posts num só e ficar maravilhoso!

Meu voto: fumaça dos sutiãs

Pipoca disse...

Eu voto no Caba macho e no Morte ao Rosa!

Pipoca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pipoca disse...

Fui lá nos links e devo re-comentar: Responsabilidade é sim uma droga!!!!!

Pipoca disse...

Eu voto no Caba Macho eno Morte ao Rosa....

Nanica disse...

Minhas caras amigas, passei pra dizer que tô viva. Acreditam que só li o pote da Borboleta hj (já tinha visto, claro, mas quando vi o tamanho, pensei 'depois eu leio')?
Borboleta, muito do que você escreve me faz olhar mais pra mim do que pra você (dá pra entender?) Mas nesse miolin aqui, é como se eu pudesse surrupiar os teus tempos que já correram. Te vi menina, te vi piveta, te vi adolescente paquerando... Acho que já te amo desde aquelas épocas! Snif. Tô emocionada!
Meninas,
Hoje é sexta, e até agora só a Borboleta escreveu. Isso é nosso pacto silencioso de greve contra a ditadora? Hehehe
E meu voto, como não pode ir pra mim, senão fica ridículo, vai pra 'Sob a fumaça dos sutiãs'!