segunda-feira, 8 de março de 2010

A Mulher que Ninguem Ve

Oito de Marco, Dia Internacional da Mulher. Odeio essa data e detesto quando alguem me "parabeniza". Acho condescendente, sabe? Eh triste ver uma data com tanto significado politico se transformar, ano apos ano, nas mesmas materias piegas nos telejornais, nas mesmas rosas, nos mesmos powerpoints bregas que assolam as caixas de entrada pelo mundo afora. E nao acaba aih: quem mais tem a inenarravel alegria de ter um dia inteirinho pra ser comemorado? Criancas, negros, indios. Ateh a Paz, coitada, precisa ter um dia especial, senao ninguem lembra dela.

No caso de voce ainda nao ter se convencido, vamos a uma breve retrospectiva: esse ano, em especial, "comemoramos" a primeira mulher a ganhar o Oscar de melhor diretor. Ha anos "comemoramos" o fato de que a mulher, apesar de estatisticamente ter mais anos em banco de escola, continua ganhando menos do que o homem. Nao esqueca que apenas 40 mulheres ganharam o Nobel (contando os 108 da historia do Premio e todas as suas categorias); que milhoes de mulheres na India andam atras de seus homens e sao autorizadas a comer o que sobra - se sobra - depois que toda a familia ja se alimentou; que outra penca de muculmanas nao podem mostrar o rosto, o cabelo, os bracos - alias, nao podem mostrar nada nada, alem de nao poderem estudar, trabalhar, dirigir, ter passaporte ou deixar o pais sem o consentimento do marido; que na India e na China o ultrassom prenatal eh proibido por lei porque na hora que os pais descobrem que o bebe eh uma menina correm pra abortar; que todos os dias, na Africa, meninas tem os seus genitais mutilados; enfim.

Sim, muita coisa mudou de cento e tantos anos pra ca, mas suspeito que esse avanco foi mais concedido - a industria precisava de mais bracos, o sistema eleitoral de mais votos - do que realmente conquistado. Entao ficamos combinados assim: me de os parabens quando essa farsa acabar e nao precisarmos mais de um premiozinho de consolacao.

4 comentários:

Luciana Nepomuceno disse...

Pode dar o parabéns no dia do aniversário? hehehe.Concordo com seus argumentos e também não gosto nada, nada, do tom condescendente e/ou comercial de certas datas.
Mas que fiquei feliz de Avatar não ter ganho quase nada, lá isso fiquei e não porque a diretora era mulher, mas simplesmente porque ela fez um filme em que o mais elogiado é o roteiro e a direção e não efeitos de qualquer tipo.
Enfim, fiquei feliz, também, de acordar e ver seu post. Embora ele tenha (quase) matado a idéia do meu...

Nanica disse...

Identifiquei-me demais com o q vc escreveu. Também me irrito com o que te irrita. Uma delas é a coisificação que se faz da homenagem (também das homenagens, como vc colocou).
Enquanto eu lia sua descrição das mulheres mundo afora, fiquei lembrando que vc ESTEVE mundo afora presenciando coisas que só vejo na revista e na TV e digo: "que absurdo!"
Mas se eu olhar pra cá, tb estou próxima do absurdo. A amiga da amiga que é violentada, que apanha. As piadas, os comentários que se ouvem no rádio, na TV. Que se vêem na internet. O quanto a mulher é a priori sujeita a tanta coisa, só em pegar um ônibus, em caminhar pela rua, em trabalhar, em ir para uma festa.
Sim, muita coisa mudou, mas tanta violência ficou mais velada!

Danielle Martins disse...

Na verdade eu só senti vontade de ser uma "cat" e me enroscar em você até roubar um sorriso!
Beijinhos e sem p.!

Pipoca disse...

Meninas,
é imprescionante, mesmo como tantos arguntos sólidos, nada como ver a satisfação ds mulheres trabalhadoras qd recebem a rosa e o cartão de homenagem no dia 08 de março (falo por experiência). Elas parecem pensar que pelo menos uma vez no ano alguém lembra do sacrifício extra delas com o trabalho, homens, filhos, casa, beleza, familia, tudo em quanto....
Concordo com tudo, acho que muito ainda precisa ser feito (e pelos motivos certos) mas ainda não "consigo" eliminar as rosas e os cartões...