segunda-feira, 8 de março de 2010

Para os que tem paciência...

Em sua Elegia, Caetano avisa logo: como encadernação vistosa, feita para titibas (ôpa, iletrados) a mulher se enfeita, mas ela é um livro místico e somente a alguns, a que tal graça se consente, é dado lê-la. Assim, este post é para letrados. E pacientes. Porque é grande paca. Também, alguma desavisada vem com um tema assim, avassalador e, além do mais, só tenho direito a um post (reclamarei sempre). Ele é (o texto), além disso, muito mais uma coletânea de coisas vistas e escritas do que material, como direi, inédito.

Ser mulher é delicado. Exige concentração. Planejamento. Não é algo dado. Escrever também não é nada fácil. Demanda entrega e precisão que às vezes nos escapa. Imagine se ocupar das duas coisas. A gente sofre. Rala. Ama. Ri. E tenta. Tenta agradar e ser autêntica. Tenta ser acolhida e viagem. Ser mãe e amante. Ficar e partir. Tenta acertar pra fazer tudo ficar bem. E tenta errar pra não estar sempre com a razão e diminuir o amado. Tenta, como diz Clarice, escrever, porque é preciso, mas sem esmagar as entrelinhas.Tenta mudar sem perder o que é sua própria essência, que não existe, porque a essência só é na medida da existência. Ser mulher é submeter-se por amor. E só por amor. É saber-se pescoço e se divertir com isso (casamento grego, quem já viu, entende...). É ir de princesa a bacorinha sem pestanejar. É ser porto e lenço. É não ser nada disso e ser outra coisa que é imprescindível pra alguém - ela mesma. Ser mulher não tem forma, regra nem modelo. Só indícios. Salto, batom, sutiã. Colar e brinco. Sim, ser mulher é brincadeira. É um a mais, depois de aprender a ser falante. É uma máscara do nada, mas que lindo é poder ser um pouco de cada vez. A cada mês. Ser mulher é ser lua, às vezes cheia às vezes minguante, vazante. Ser mulher é ser noite escura, mistério e terror. É não poder dizer, nem escrever. É saber-se em falta (nos dois sentidos). É ter todos os sentidos e mais alguns. Ser mulher é delicado, embora nem toda mulher o seja. Ser mulher é ficar feliz como eu estou e, ainda assim, não esquecer a possibilidade da tristeza. É não esquecer Vinícius:uma mulher tem que ter qualquer coisa de triste. Qualquer coisa que sente saudade. Um molejo de amor machucado... Ser mulher é ser uma mulher. É ser uma. Única. Ser Rebecca. Ser Gilda. Bonequinha de Luxo.De qualquer maneira. À sua maneira.

E pensando nas águas que já rolaram vieram pensamentos sonâmubulos:

Para Aline: Alice (no país das maravilhas), Baby (Consuelo), Carmem (de Bizet e de Callas), Doida demais (Vera Fisher), Eva (óbvio), Funny Girl (além do filme, é importantíssimo ser alegre), Gilda(essa sim a mulher inesquecível) e de Graúna (desculpa, aí), Hilda (furacão, terremoto, tempestade), Ismália (na torre a chorar), Jezebel (Bette e seus olhos), Lizza Minelli (afinal Cabaret é tudo de bom, né?), Marquesa de Merteuil (não é minha culpa), Norma Rae (ia ser a Noviça Rebelde, mas fiquei com rebeldes de qualquer tipo), Olga ( e sua coragem), Piaf(non, je ne regret rien), Querida (que é como chamamos aquelas de quem não lembramos o nome mas não queremos desagradar), Rosa (de Luxemburgo ou a do Chico que arrasa os projetos de vida ou ainda a que é divina e graciosa), Sissi (ia ser p de princesa, mas não dava pra ficar sem Piaf), Teresa(e Tomas, claro), Ursula Andress ( e sua entrada/saída do mar estilo deusa), Virgínia Woolf (quem tem medo? Eu não), Xica da Silva (iiihhh, achou que eu ia ter que colcoar Xux, não foi?), Zepellin que queria a Geni (eu tinha que colocar Geni, mas não dava pra tirar a Gilda, né?)

Para Liana:
Foi assim
Todo o mar que eu via
se precipitou logo no meu coração
que é de sal
(Sebastião Alba)

Para Dani: Vinícius também tem uma receita...aqui vai parte dela:
(...)É preciso que tudo isso seja belo. É preciso que súbito tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora. É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços alguma coisa além da carne: que se os toque como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos entãonem se fala, que olhe com certa maldade inocente

Para Aninha:

As we come marching, marching in the beauty of the day,

A million darkened kitchens, a thousand mill lofts gray,

Are touched with all the radiance that a sudden sun discloses,

For the people hear us singing: “Bread and roses! Bread and roses!”

As we come marching, marching, we battle too for men,

For they are women’s children, and we mother them again.

Our lives shall not be sweated from birth until life closes;

Hearts starve as well as bodies; give us bread, but give us roses!

As we come marching, marching, unnumbered women dead

Go crying through our singing their ancient cry for bread.

Small art and love and beauty their drudging spirits knew.

Yes, it is bread we fight for — but we fight for roses, too!

As we come marching, marching, we bring the greater days.

The rising of the women means the rising of the race.

No more the drudge and idler — ten that toil where one reposes,

But a sharing of life’s glories: Bread and roses! Bread and roses!

James Oppenheim, 1911


Pra mim mesma: ser mulher é ser essa menina, essa mulher, essa senhora (...) essa menina pode ir pro Japão, na vida real você é quem enlouquece...se puder esqueça a menina que você seduz (...) mulher que nega tem uma coisa de menos no seu coração (...) a vida é mulher, mulher é a vida, toda mulher é mulher da vida (...) porque um dia já tive Vinícius(s) que leram pra mim para uma menina com uma flor

4 comentários:

Nanica disse...

Tive paciência, ingrediente indispensável, senão a massa cresce mais do que deveria. Li até o fim. E adorei. Seria babar demais dizer que me identifico mais com o que vc disse do que com o que o Caetano disse? Kkkk tudo bem, babar vcs é comigo mesmo!!

Danielle Martins disse...

Segui a receita direitinho e li todinho!
Você se aproveitou:fez 6 post em 1, mas a gente te ama mesmo assim.
Vou procurar os sinonimos de "adorei" pra não ficar tão repetida!

Lica disse...

Menina, ainda é segunda... esse pote bombou! Ainda bem que nosotras temos direito a outro post... kkkk

Aline, cadê a Dani prima?

Adry, vamos ter que aumentar a recompensa?

Luciana Nepomuceno disse...

o que aconteceu com quem tem direito a dois? Convoco de imediato a virginal Dani, a nanica de assuntos Aline e quem mais tiver semelhança com elas pra postar logo, logo...