domingo, 20 de fevereiro de 2011

Meu Tempo é Quando

Para Rita,
que já cresceu.

Quando eu crescer, usarei chapéus. E lenços no pescoço. E, até, laços de fita em dias de mais cor. Quando eu crescer terei sapatos vermelhos e sonhos azuis e na casa da minh'alma terá um gato chamado Smile que nunca deixará minha angústia sozinha. Quando eu crescer tomarei sorvete com colherzinha vendo cinema nas calçadas e admirando toda gente de bengala. Quando eu crescer serei Senhora e saberei dizer obrigadas e fazer mesuras. No tempo desse quando haverá belezas e bondades e eu nunca mais precisarei dizer que a coisa mais fina é gentileza, porque todos concordarão em ipis e hurras. Quando eu crescer andarei de mãos dadas, com ele ou comigo, e saberei que não faz diferença, somos sempre sozinhos, e isso não me trará lágrima nenhuma. Quando eu crescer, esta solidão, tão grande e tão minha, será habitada pelo amor dele e em dias de ser pequena eu ficarei miúda em sua mão, em seu colo, e saberei a beleza de não ser grande sempre. Quando eu crescer tomarei banhos de chuva até em tempos onde chuva não há e dançarei as músicas que eu inventar. Quando eu crescer meu filho dirá não e sim nas horas certas dele e eu terei a paciência de quem disse sim e não nas minhas horas, certas ou erradas. Ah, no quando do crescer, haverá mar por todos os meus lados, inclusive do lado de dentro. E haverá amigos a rir de eu viver tão em rubro e usar papel toalha quando eu suar vermelhas dores. Quando eu crescer viverei sempre com o coração na mão, sangue nos olhos e o juízo nos pés. Quando eu crescer, saberei o que tiver que saber e saberei que o principal não é saber. Quando eu crescer terei rugas e saias rodadas, quando eu crescer brincarei de andoleta e darei língua e dormirei encolhida em um abraço. Quando eu crescer terei olhos enormes pra ver melhor e saberei histórias de chapeuzinho para netos, filhos e pais, que todos gostarão de vovozinhas saindo das barrigas de lobo. Quando eu crescer trarei saudades no útero e darei a luz a memórias que farão companhias umas às outras. Quando eu crescer não saberei de relógios mas de frutas suculentas, noites estreladas e outras formas do tempo se dizer pronto. Quando eu crescer saberei escrever nas peles e nos olhos e nos afetos e minhas letras serão eu. Quando crescer, recitarei, solene:

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

7 comentários:

Lílian disse...

Oi, borboleta!

Moro em João Pessoa e sou cunhada da Rita, para quem vc fez o texto - foi por isso que aqui cheguei. Bem, ela já está familiarizada com meus "comentários-carta", por isso vou logo pedindo desculpas pelas linhas excedentes, repare não, tá?

Dia desses comentei lá na Rita que generosidade é coisa prática, e fica na memória. Foi quando ela contou do Arthur e suas aventuras para escolher um presente para si e para a irmã. Achei tão lindo e, para melhor lhe dizer, foi exatamente sua generosidade quem me trouxe até aqui. Porque palavras são muito importantes e válidas, sempre, nem questiono isso. Mas atitudes são muito mais, principalmente quando envolvem renúncia pessoal...

Em uma de suas canções Alejandro Sanz diz que "dar somente o que te sobra nunca foi compartilhar, e sim dar esmolas". E então o Arthur tirou de si para dar. E você tirou de seu tempo, de seu esforço e também de seu dinheiro, por que não dizer isso, para dar algo a alguém que, por acaso, é alguém que amo.

Então, borboleta que nem conheço, só por causa disso vais ganhar UM XERO! Eu sou mineira, mas vivo no nordeste há um tempão - e o nome desse blog, sei não, tem uma carinha beeeem nordestina :-))). Sendo ou não sendo, fica aí o carinho, tá?

Você fez muito por merecer.

Lílian.


P.S.: um dia aprendo a escrever comentários mais curtos...rs..








.

Rita disse...

Ai, que tanta coisa boa, gente. Ui.

Beijos, vocês.

Rita

p.s. Cadê meu outro comentário que tava aqui??

Danielle Martins disse...

Rita o seu comentário está em outro post, acho que você estava tão emocionada que comentou no lugar trocado (é, porque aqui não tem "errado"). Ah! Merecida homenagem!
Lílian, aqui pode-se tudo. Comentários monossilábicos, comentários cartas, comentários posts. ficamos felizes com comentários.
O blog é mais que nordestino, é da gema, é do sertão, é de gente que gosta de café com pão!
Fique a vointade de beber da nossa água sempre que desejar!

Lori disse...

Mas o pão é com manteiga enfiado no café e mordido saboreando!!!

Luciana Nepomuceno disse...

Lilian, que gostoso seu carinho. Obrigada. Como a Dani disse, fique à vontade, aqui o clima é mesmo de cadeiras na calçada e muita conversa.

Lilian disse...

Ok, ja to arrastando a minha... Ainda bem que nao sou chegada a trico senao ia ter que comprar um tantaaaaaao assim de linha (hoje o computador resolveu ficar rebelde com acentos e cedilhas. De vez em quando ele faz isso, deve ser pra tentar me irritar. Ah, coitado...)!

Outro xero. :P

Cáh disse...

"Quando eu crescer terei sapatos vermelhos e sonhos azuis e na casa da minh'alma terá um gato chamado Smile que nunca deixará minha angústia sozinha".



essa mulher ainda me mata!