Está chovendo em mim e eu gosto. Às vezes sou assim, pelo avesso. Eu sou assim: um amontoado de palavras. E não sou só as letras. Nem os sentidos. Perdi-me nos papéis. Preste atenção, mas não vai entender mesmo assim. Mas fixar o olhar ajuda. Sou quebra-cabeças incompleto, sem as peças do meio. Nem das pontas. Pelo avesso. Seca que assusta, doce que enjoa. Leve que não se alcança, pesada que não se carrega. Difícil de entender. Sou teimosa, muito. Sou boba. Deslumbrada. Sou clichê. Sou sem freio, sem porteira, sem limite. Pelo avesso, já disse? Tenho cadeados, tenho chaves e trancas, mas deixo todas as portas e janelas escancaradas. Sou feita de urgências. Tenho pressa. E fico parada, na varanda, vendo o mar em imagens do que não há. Não sei escapar de mim, nem quero.
Sirvo café aos meus fantasmas e passamos as noites em claro. Eu os assombro com as perguntas que ainda vou inventar. Sou fácil se você me alcançar. Receio os primeiros contatos e são sempre últimos. Isso, quando não são pra vida toda. E sempre são. Não me sei sã. Pelo avesso.
