segunda-feira, 10 de maio de 2010

Na ponta da língua

Afonia é a perda da voz, parcial ou total. Daí que eu fiquei pensando zilhões de formas de abordar esse assunto. De uma forma política, talvez, tratando da situação das mulheres que, ao terem mutilados seus corpos têm junto com isso mutiladas suas vozes. Mas, de forma rara, abri mão do meu etnocentrismo. Pensei em tratar do cinema mudo e dos belos e expressivos filmes de Buster Keaton que nunca precisou de nenhuma palavrinha pra transmitir o que queria na imensa tela do cinema (tinha que ser imensa porque o talento dele era enorme). Mas, talvez, essa abordagem interessasse só a mim mesma e, de forma ainda mais rara, abri mão do meu egoísmo. Preferi, então, o tom confessional que, pelo menos, permite que vocês se entretenham a mangar de mim.

Ficar sem voz. Isso me ocorre principalmente em três ocasiões: quando me beijam, quando tenho uma raiva enorme ou quando rio. Quem me conhece assim, mais de perto, sabe como é fácil me fazer transitar de claras palavras para balbucios entre gargalhadas seguidas até me faltar o ar. Rir é tão bom e dispensa a lógica. Quando a gente se entrega à risada, aquela que transcende a boa educação, as palavras e seu canal, a voz, são desnecessários excessos.
E as raivas! Não aqueles ódios bem pensados já descritos em outras paragens, mas aquele arrebatamento que assalta repentinamente quando se encontra uma grande injustiça, uma grande burrice, um grande desrespeito. A voz falta porque falha a respiração e não há ar suficiente pra enunciar o que quer que seja. Arregalam-me os olhos, os sentidos, mas não há quem faça falar, a raiva me rouba a voz mais do que me rouba as palavras, aliás geralmente desaforos muito bem alinhados em meu pensamento...A educação não me deixa gritá-los. Vezes ocasionais sussurro aqui e ali um palavrão, mas só sob grande emoção e geralmente acompanhada de uma bela vermelhidão na face.
Mas de um vermelho distinto é ficar sem voz entre beijos. Que delícia nada dizer perdida na úmida alegria de um encontro esperado. Gosto de beijos. Tem aqueles que vão chegando, chegando, a gente vai ficando tonta de antecipação...ai, ai. Tem aqueles meio inesperados quando no meio de uma conversa qualquer parece que não se consegue evitar que os lábios se encontrem, como que um pouquinho antes da hora, sábios nas suas necessidades e pressa. Tem aqueles demorados onde parece que é melhor morrer mesmo sem respirar do que deixar aquele prazer perder-se. Tem aquele rápido, último depois do último, quando já se devia ter ido embora mas não é possível partir sem deixar-se mais um pouco. Tem beijo de chegada e beijo de partida, beijo em que dançam todos - corpo, língua, alma; beijo de "vamos agora?" e beijo de "ai, como é bom". Beijar dispensa palavra ou, pelo menos a adia. A não ser que sejam beijos em formas de letras. Esses, que são os beijos que tem me tirado não só a voz, mas o sono. Beijos que têm enfrentado o oceano e que só existem nas palavras que os sustentam, beijos que estão, por assim dizer, na ponta da língua...

5 comentários:

Pipoca disse...

A afonia por beijos tá em falta é? rsrsrsrsrs

Luciana Nepomuceno disse...

Deixe de gracinha, lembre que está em débito e trate logo de falar de biólise pra esse negócio andar...

Danielle Martins disse...

ai, ai, ai... fiquei afonica! kkkkk

Gabriella Maciel disse...

kkkkk
adorei! eita que mulher beijoqueira! :o
é tão legal ver vocês entrando no "meu" clima! kkkk

Unknown disse...

eu quero mais é beijar na boca!!